COMO É UTILIZADA
As roças de mandioca
Diariamente as mulheres baniwa das dezenas de aldeia do alto Içana e Aiari vão às suas roças arrancar raízes de mandioca brava (káini) para transformá-las em comida, aos costumes. Jornada duríssima. Levantam de madrugada, preparam mingau, servem aos filhos e aos maridos, apanham terçado e aturá (tsheeto) e seguem para a roça (kenike), a pé, de canoa.
Arrancar as raízes é tarefa especialmente pesada quando se trata de uma heéñami, roça velha, já encapoeirando. Mais fácil no caso de uma maaleri, roça madura ou walikawaire, roça nova.
Houve tempo, no começo do mundo, quando Kaali andava na terra, que as mulheres não sofriam no trabalho da roça e processamento da mandioca. Bastava marcar terreno e surgia uma roça. Bastava fazer o aturá e deixá-lo na roça a caminho do igarapé para se banhar, que ele ressurgia na comunidade, lotado de mandiocas já descascadas! As mulheres só faziam imaginar e tudo acontecia nos conformes, até mesmo beiju pronto para comer. Hoje os mais velhos ainda lembram das frases certas, orações evocativas para esses verdadeiros milagres. Mas a curiosidade dos humanos – que tentavam desvendar o que se passava nas roças de Kaali - estragou tudo e, aos poucos, foram sendo castigados, perdendo os privilégios, condenados a trabalhar duro. Os homens pagaram primeiro e houve um tempo em que a eles cabia o trabalho da roça e do processamento da mandioca. Dizem que foi nesse tempo que os homens ficaram com a parte interna do braço chata, de tanto raspar mandioca.
Mas o herói ancestral baniwa retomou a ordem, e a divisão sexual do trabalho foi instituída. No tempo de verão – de dezembro a março - derrubar e queimar, trabalho masculino; plantar e limpar, coletivo. Tudo que vem depois de nove meses, quando as raízes já estão maduras, é por conta das mulheres.
A lida da mandioca - das roças aos alimentos - toma a maior parte do tempo da vida das mulheres baniwa. Exige enorme esforço físico e habilidade.
Com a mandioca fazem farinha e beijus, indispensáveis na alimentação baniwa. |
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Nas roças baniwa há grande variedade de mandiocas bravas, derivadas da árvore ancestral (kaalika ttaadap), que Kaali deixou na terra, antes de partir. Derrubada pelos filhos do trovão, seus galhos foram levados, originando a diversidade de plantas úteis que os baniwa conhecem. |
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Somente nas roças situadas na área de domínio da comunidade de Tucumã-Rupitá, no alto Içana, por exemplo, foram relacionadas cerca de 60 variedades. Cada uma tem nome próprio: aalidalíke (tatu), awiñáke (uacu), daapáke (paca), dapike (cipó), dopalíke (araripirá), dzamolitoke (caitetu), dzaapáke (tucunaré), dzaawatóke (acará), dzaike (?, tipo grilo), dzeekáke (seringa), dzoottalike (jacundá preto), eeritoke (acará), guenieroke (guainia), hemalíke (abiu), heemahiwidake (cabeça de anta), hiiniríque (ucuqui), hiipadáke (pedra), ipohiwidake (cabeça verde), iikolíke (cabeçudo), iitsíke (guariba), iirakawanake (braço vermelho), itsidáke (jabuti), kabike (peito de gente), kamheróke (cucura), kapíwali (macaxeira), kedehakeke (?, de sujo), keeríke (lua), keniki-ikínarke (?, espelho), kerekeréke (periquito), kettinalike (jacundá), koliríke (surubim), kowaidake (tipo de castanha), kumaruke (cumaru), liewhéke (ovo de cabeçudo), maapake (cana-de-açúcar), moóneke (mamangaba), manakheke (açaí), mapharáke (pirarara), mheettike (goma, tapioca), ñamaroke (arraia), omaíke (piranha), palanáke (banana), parawitsike (pirapucu), patipitike (? sombrancelha), pidooke (lontrinha), pirimítsike (samaúma), piipiríke (pupunha), ponámake (patauá), pooperike (bacaba), taalíke (aracú), waarhéke (uará), wadólike (pirarucu), waliitshíke (mucura), entre outras. |
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